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315 estórias

Saturday, February 21, 2015

Antonieta









Comandante Guélas

Série Colégio Militar

As pernas da Rosa acolheram muitos gemidos apaixonados, ela engatava-os com tudo o que mexia, era uma flor aberta exclusivamente aos Meninos da Luz, porque amava o cheiro daquela rapaziada. Mas não dava vasão ao batalhão (até rima!). Por isso muitos aproveitavam a primeira sexta-feira de cada mês, após o jantar, para irem confessar-se ao seminário na ponta do Largo da Luz. Saíam a marchar, e pelo meio fugiam para as capelinhas…perdão, para as tascas de Carnide, enquanto os mais necessitados aventuravam-se com uma sessão contínua no Olímpia e Odéon, e os veteranos iam diretamente falar com a “Albertina das Mamas Grandes” e a “Dallas Cowboy”, lá para os lados do Bairro Alto. Mas um dia aconteceu o que parecia ser impossível: a Antonieta! Uma fêmea mais roliça, com o dobro da prateleira, logo o dobro da ereção e, para agravar a situação, também tinha uma pandeireta de sonho. A nova rapariga destabilizou o Gordini e grande parte do batalhão, habituados à filha do hortelão e à Maria Macaca e, nos dias de festa nos claustros, às pernas das mamãs dos ratas que os observavam do primeiro andar. E nas horas de desespero servia a mulher do Patronilha, cujo nome se mantém um mistério, sabendo-se unicamente o da sua irmã, a Júlia.
- Patronilha, a tua mulher nem com uma almofada na cabeça, - costumava dizer o Horrível.
Mas o vigilante dava sempre o troco:
- É feia mas f… bem!
Até o Chico Porteiro julgou estar a alucinar quando numa noite deu de caras com o Sub de cuecas e botas altas, no gabinete, atrás de uma senhora, tudo visível da rua porque as luzes do gabinete estavam acesas.
- Dentinho, - gritou alguém da quarta, quebrando o silêncio obrigatório do recolher.
O “homem” acordou assarapantado, e saiu a correr em direção ao corredor da companhia, disposto a apanhar os atrevidos e a aviar-lhes os vários abrunhos da praxe. Chocou violentamente contra a porta do geral, trancada com um piaçaba.
Quem não estava em bons lençóis era o 404, na aula de equitação a Nono pedira-lhe colinho e sentara-se em cima do seu joelho. Valera-lhe alguém “c’um saber só de experiências feito”:
- Toma estas duas aspirinas, e espera pelo Dr. Salgueiro Rego, que chega daqui a duas horas, - disse o Valentim tirando o braço do frasco castanho cheio do produto made in Laboratório Militar.
Acabou internado na Falca (enfermaria) a apanhar injeções nos pés, porque o enfermeiro não conseguira descobrir as veias dos braços por estarem “escondidas pela gordura”. Mas a conversa do dia era a queda do padre Baldomijo, perdão, Valdomiro, que tinha feito uma curva mais apertada com a sua Lambreta, talvez devido à tensão alta causada pela cena da dama com as mamas a abanar do filme de quinta feira, “A Quadrilha Selvagem”, contando agora a todos que vira uma “luz” antes de bater com os costados no chão.
- Deve ter visto as cuecas da Antonieta, - arriscou o Peidocueca.
No primeiro andar o Moreira gritava desesperado com os alunos que tinham acabado de lhe atacar o armário, mal abrira a porta, recheado de Bolama:
- Bós sois piores que os ciganos!
Na semana anterior tinham-lhe tirado os fundos do armário e por isso quando se preparava para iniciar o complemento do ordenado, já com uma fila de clientes devidamente ordenados, e com distância de segurança, das bolas de Berlim e dos mil folhas só restava algum açúcar e umas poucas páginas. No campo de futebol de 5 a festa ia animada no jogo de professores contra alunos, o Carioca levara uma cueca dum discente mais habilidoso, que fizera passar o esférico entre as suas pernas, e causara um burburinho na assistência, que o pôs irado não tendo descansando até lhe ter dado uma porrada cristã. A estória acaba no pátio dos fâmulos com o Barnabé, motorista do Diretor, a tentar impressionar a Antonieta, ajeitando a peruca laranja e mostrando o seu stand de carros usados, cujo contacto da empresa era o número da central do Colégio Militar, que tinha um aviso para o chamar caso fosse algum cliente.